Tradução: tomaZtadeu
Esta conferência é o resultado de uma antiga fascinação, que diz respeito a uma figura e a um título com os quais tenho me debatido por vários anos. Ambos estão em um livro, escrito pelo filósofo francês Gilles Deleuze e o psiquiatra de orientação lacaniana, Félix Guattari, intitulado Mil platôs, publicado em 1980. Ele constitui a segunda parte de um livro intitulado Capitalismo e esquizofrenia. O título é o seguinte: “28 de novembro de 1947 -- Como criar para si um corpo sem órgãos”. E sob esse curioso título vem um desenho, com a legenda: “O ovo dogon e a repartição de intensidades”.
Nesse título e nesse desenho encontramos uma combinação extremamente intrigante, mas um tanto obscura. Vou citar o primeiro parágrafo para lhes dar uma impressão do desespero filosófico de que fui tomado durante minha primeira leitura: “De todo modo você tem um (ou vários), não porque ele pré-exista ou seja dado inteiramente feito – se bem que sob certos aspectos ele pré-exista – mas de todo modo você faz um , não pode desejar não fazê-lo – e ele espera por você, é um exercício, uma experimentação inevitável, já feita no momento em que você a empreende, não ainda efetuada se você não a começou. Não é tranqüilizador, porque você pode falhar. Ou às vezes pode ser aterrorizante, conduzi-lo à morte. Ele é não-desejo, mas também desejo. Não é uma noção, um cnceito, mas antes uma prática, um conjunto de práticas. Ao Corpo sem Órgãos não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite. Diz-se: que é isto – o CsO – mas já se está sobre ele – arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como um louco, viajante do deserto e nômade da estepe".
O título vem de um experimento radiofônico realizado pelo ator e escritor francês Antonin Artaud, no qual esse inovador do teatro, o qual, aliás, era considerado mais ou menos louco pelos psiquiatras, declara guerra aos órgãos. Filosoficamente falando: ele critica radicalmente a maneira como o indivíduo ocidental objetifica e vive seu corpo e seu desejo.
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Sobre os Dogon: DOGON NOMMOS