sábado, 28 de junho de 2008

Centro de Estudos Claudio Ulpiano



O Centro de Estudos Claudio Ulpiano é uma Associação Civil sem fins lucrativos, fundada por um grupo de antigos alunos de Claudio Ulpiano, com o objetivo de preservar e divulgar o seu trabalho - centenas de aulas gravadas e escritos filosóficos -, promover cursos e criar novos núcleos de estudo e pesquisa nas áreas de filosofia, ciência e artes.

Claudio Ulpiano, pensador por excelência, professor de filosofia da UERJ e da UFF, pode ser considerado o maior divulgador do pensamento de Gilles Deleuze no Brasil. Suas aulas, dentro e fora da universidade, formaram e inspiraram várias gerações no estudo rigoroso e vivo da filosofia. Seus alunos, de cursos e profissões variadas, vinham de todos os cantos da cidade, e a expressão original dessas aulas permanece até hoje na produção acadêmica, artística, e no pensamento de todos os que tiveram o privilégio de assisti-las.

Ao transcrever e disponibilizar, neste site, as aulas do professor Claudio Ulpiano, o CCLULP visa torná-las acessíveis não só aos seus antigos alunos, mas também àqueles que nunca tiveram a oportunidade de ouvi-las. Que a Internet assuma, então, o lugar da sala de aula, que Claudio estimava acima de tudo, e continue formando novos e entusiasmados alunos.

Acesse: www.claudioulpiano.org.br

domingo, 22 de junho de 2008

As sociedades de espetáculo hoje, por Luiz Fuganti

Não há sociedade constituida com Estado ou Lei que não demande formação de espelho de validação ou reconhecimento de existência de seus sujeitos. Toda vida separada do que pode, isto é, apartada de sua capacidade de acontecer no imediato do movimento e do tempo próprios que a atravessam, carece e investe um plano de reconhecimento. Na impotência para gerar valor e produzir eternidade na existência, pela afirmação imediata da própria diferença, criando linhas de singularização e estilização de si, investe-se uma instância de representação ou julgamento que atribui ou destitui valor a partir da esfera simulada de um lugar a se chegar: as sociedades atuais continuam a fabricar a necessidade de se chegar a um lugar do sucesso a partir de um fracasso intransponível como uma falta de objeto como suposta essência do desejo. E não há espetáculo bem sucedido que não torne o vencedor em vencido pela própria vitória.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Luz silenciosa, filme de Carlos Reygadas



Há um sofrimento que toma conta da vida dos personagens, fazendo-os buscarem respostas no terreno mais imundo que pode existir: a moral. Há uma violência produzida pela moral que inevitavelmente impõe, àquele que sofre as conseqüências dela, uma via venenosa para que o sofredor encontre a causa das suas dores em si mesmo: a culpa. Duas grandes cenas marcam o filme: as lágrimas de Johan e Esther. A dor expressa no rosto de Johan, sentado junto à mesa, sozinho, chorando durante longos minutos; a outra cena, profundamente marcante, após uma longa cena no interior de um automóvel: Esther diz a Johan que sente saudade dos tempos em que eram felizes, quando ela se sentia viva. Ainda com o automóvel em movimento, ela pede para Johan parar: ao sair do carro, sob chuva forte, ela encosta a cabeça no tronco de uma árvore e chora longamente... Uma cena memorável. Muita dor, muita infelicidade. As lágrimas de ambos mostram o retrato de prisioneiros de uma moral que não pára de os violentar. Estão separados da capacidade de efetuar plenamente o que podem, no corpo e na mente. Não há moral que não opere essa amputação... Não, a culpa não é inerente à natureza humana. Ela é um terrível veneno que faz com que a moral seja ainda mais necessária aos que sofrem os efeitos dela... Filme grandioso, que faz lembrar algumas obras-primas de Tarkovski. Sensação pura. Mas quem está acostumado a interpretações, poderá se entediar.

Amauri Ferreira, 16.06.08


Comentário do "The Guardian":

No seu melhor, o novo filme de Reygadas tem a riqueza de um Mallick ou a simplicidade transcendente de um Ozu; no seu pior ocasional, tem o sopro de Lars Von Trier. Mas não se enganem: este filme pensado em profundeza, formalmente conseguido, de aspecto belíssimo e inesperadamente empolgante de um realizador que dá o salto para a primeira linha do cinema mundial. Na passagem a negro final, deixa para trás um ecrã branco, como se o interior da retina ficasse a sensação tremeluzente por ter olhado para algo de esmagadoramente poderoso.
É com certeza um desenvolvimento nítido e convincente do primeiro filme de Reygadas, Japon, e de longe superior ao seu ambicioso mas trapalhão segundo, Batalha no Céu. Uma passada em falso cuja tolice e superficialidade é exposta em quantidade. Luz Silenciosa tem momentos sublimes, meditativos: momentos de êxtase visual não comprometida que chega perto de desafiar as leis de gravidade cinematográfica… [...]

Leia mais sobre o filme clicando aqui

sábado, 7 de junho de 2008

Sociedade: Entrevista com Félix Guattari - A subjetivação subversiva [30/12/1990]




Para o pensador francês, coisas como a crise no Oriente Médio, o racismo, a violência nas grandes cidades e a droga estão relacionadas com o achatamento das subjetividades, que podem subverter a ordem opressora através de movimentos conservadores, desafiando a lógica progressista.


por Antônio Lancetti e Maria Rita Kehl*

Impossível definir Félix Guattari como pensador sem levar em conta a sua dimensão militante, já que para ele essas coisas não se separam: a reflexão e suas conseqüências práticas, o individual e o social, o público e o privado. Por isso mesmo, Guattari foi se transformando nessa espécie riquíssima (e hoje rara) de ser humano que vai sendo expulso, ou se auto-expulsando, de todas as instituições, de todos os lugares onde pensamento e ação se paralisam, comprometidos com a manutenção de posições de poder: as sociedades de psicanálise na França, os movimentos e partidos políticos, os modismos intelectuais que tendem a banalizar na forma de grandes conceitos universais a multiplicidade das singularidades humanas.

Excêntrico (ou seja, fora do centro), mas não marginal; coerente com suas idéias, o autor do Anti-Édipo (com Gilles Deleuze), Revolução molecular, Cartografias do desejo (com Suely Rolnik) e do recente As três ecologias, não se considera sem lugar, num mundo onde os territórios devem ser continuamente reinventados. Esta excentricidade fez com que ele sempre se interessasse pelas formações sociais que expressam dissonâncias subjetivas em relação ao achatamento que o mercado e os mass media promovem: dos movimentos de 68 na Europa à guerra no Oriente Médio, das rádios livres à ecologia, da crise no Leste Europeu à reinvenção do socialismo pelo PT, partido que ele acompanha com interesse desde sua fundação.

A entrevista que se segue foi concedida por Félix Guattari a Antônio Lancetti e Maria Rita Kehl, durante sua última visita a São Paulo, em agosto deste ano. A tradução é de Peter Pál Pelbart.

Para ler a entrevista completa, clique aqui


sexta-feira, 6 de junho de 2008

Trecho da Genealogia da moral, de Nietzsche

Está fora de dúvida que através dela [a atividade maquinal] uma existência sofredora é aliviada num grau considerável: a este fato chama-se atualmente, de modo algo desonesto, "a bênção do trabalho". O alívio consiste em que o interesse do sofredor é inteiramente desviado do sofrimento - em que a consciência é permanentemente tomada por um afazer seguido de outro, e em conseqüência resta pouco espaço para o sofrimento: pois ela é pequena, esta câmara da consciência humana! A atividade maquinal e o que dela é próprio - a absoluta regularidade, a obediência pontual e impensada, o modo de vida fixado uma vez por todas, o preenchimento do tempo, uma certa permissão, mesmo educação para a "impessoalidade", para o esquecimento de si, para a "incuria sui" -: de que maneira completa e sutil o sacerdote ascético soube utilizá-la na luta com a dor! Precisamente quando tinha de lidar com sofredores [...] necessitava ele de pouco mais que a pequena arte de mudar os nomes e rebatizar as coisas, para fazer com que vissem benefício e relativa felicidade em coisas até então odiadas. [...] Um meio ainda mais apreciado na luta contra a depressão é a prescrição de uma pequena alegria que seja de fácil obtenção e possa ser tornada regra. [...] A forma mais freqüente em que a alegria é assim prescrita como meio de cura é a alegria de causar alegria (ao fazer benefício, presentear, aliviar, ajudar, convencer, consolar, louvar, distinguir); no fundo, ao prescrever "amor ao próximo", o sacerdote ascético prescreve uma estimulação, embora em dosagem prudente, do impulso mais forte e mais afirmador da vida - da vontade de poder. A felicidade da "pequena superioridade", que acompanha todo ato de beneficiar, servir, ajudar, distinguir, é o mais abundante meio de consolo de que costumam servir-se os fisiologicamente obstruídos, supondo-se que estejam bem aconselhados. [...] Todos os doentes, todos os doentios, buscam instintivamente organizar-se em rebanho, na ânsia de livrar-se do surdo desprazer e do sentimento de fraqueza: o sacerdote ascético intui esse instinto e o promove; onde há rebanho, é o instinto de fraqueza que o quis, e a sabedoria do sacerdote que a organizou.

Friedrich Nietzsche, "Genealogia da Moral", terceira dissertação, 18. Trad. Paulo César de Souza.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Passagens da clínica, por Eduardo Passos e Regina Benevides

Repetimos a pergunta: o que pode a clínica? A questão insiste, obrigando-nos a retomar a relação da clínica com o fora da clínica, que é convocado nesta experiência que chamamos de transdisciplinar. Entre a clínica e a arte, a clínica e a filosofia, e entre a clínica e a política, a passagem é feita por modulações. Modulando a pergunta espinosista sobre o que pode um corpo, formulamos, então, nossa questão.
Perguntar o que pode é propor o tema do poder, da potência que nos impulsiona a fazer essas passagens. Assim, indicamos a direção que queremos sempre dar ao nosso percurso. Percorrer essas modulações da questão, passar da clínica à arte, à filosofia e à política, é ter de habitar esse espaço intervalar do entredomínios, do que não é totalmente isto ou aquilo, do que está na operação da conjunção "e", lá onde proliferam encontros e composições.
Em trabalho anterior, ao parafrasear a pergunta espinosista sobre o que pode um corpo, propusemos esta outra: o que pode a clínica, tomando a argumentação deleuziana acerca da Ética? Deleuze, ao ler a argumentação de Espinosa acerca da relação expressiva entre a substância divina e os modos existentes, destaca o jogo de equivalências entre as "duas tríades do modo finito". Aproveitando os comentários de Deleuze e forçando a passagem da filosofia à clínica, entendemos a clínica como um modo finito ou modo existente. Como tal, ela toma as afecções como seu ponto de incidência, definindo-se ela própria como um conjunto de afecções. Perguntar o que pode a clínica é o mesmo que perguntar do que a clínica é composta, o que, por sua vez, equivale a perguntar como ela pode ser afetada e que conjunto de afecções (affectio) exprimem a sua essência. Dito de outra maneira, dizer que a clínica tem uma composição equivale a dizer que ela lida com composições. É nesse sentido que podemos pensar a atitude de colocação do próprio caso da clínica em análise, indagando acerca do que nela é posto em relação, e de como ela afeta e é afetada nas relações: a ética da clínica. A clínica é, ao mesmo tempo, um modo de lidar e acompanhar casos e um caso ela mesma. A clínica dos casos e o caso da clínica. [...]

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OBS.: este texto faz parte do livro Polifonias; clínica, política e criação, organizado por Auterives MACIEL Jr, Daniel KUPERMANN e Silvia TEDESCO e publicado, em 2005, no Rio de Janeiro, por Contra Capa Livraria, em parceria com o Mestrado em Psicologia da Universidade Federal Fluminense. A divulgação do texto neste blog é um convite à leitura do livro, que reúne excelentes artigos derivados de comunicações feitas em dois eventos organizados pelo Mestrado em Psicologia da UFF, A clínica em questão: conversações sobre clínica, política e criação, ocorrido nos dias 4 e 5.12.2003, e A arte da clínica e a clínica da arte, realizado em 24 e 25.11.2004. Há disponibilidade do livro na editora.

Virtuosismo y revolución: notas sobre el concepto de acción política, por Paolo Virno

I.- En nuestros días, nada parece tan enigmático como la acción. Tan enigmático como inaccesible. Podríamos decir, a modo de chiste: si nadie me pregunta qué es la acción política, creo saberlo; si tengo que explicarle lo que es al que me hace la pregunta, ese supuesto saber se disuelve en una cantinela inarticulada. Y sin embargo, ¿se da, en el lenguaje común, una noción más familiar que la de acción? ¿Por qué una evidencia semejante se ha arropado con tanto misterio? ¿Por qué suscita una admiración semejante? Para responder a estas preguntas no basta con echar mano del eterno pelotón de sacrosantas razones prêtes-à-porter: las relaciones de fuerza desfavorables, el eco tenaz de las derrotas sufridas, la arrogante resignación que la ideología posmoderna no deja de mantener. Otros tantos elementos que tienen su importancia, no hace falta decirlo, pero que, en sí mismos, no explican nada y llegan incluso a sembrar la confusión, en la medida en que nos dejan suponer que atravesamos un túnel oscuro a cuyo final todo volverá a ser como antes. Recíprocamente, la parálisis de la acción está ligada a aspectos esenciales de la experiencia contemporánea. Es ahí, en torno a tales aspectos, donde hay que ahondar, sabiendo al mismo tiempo que no constituyen una desgraciada coyuntura, sino, claramente, un fondo insoslayable. Para romper el hechizo, es preciso elaborar un modelo de acción que precisamente permita a la acción nutrirse de lo que actualmente determina su bloqueo. El propio interdicto debe transformarse en salvoconducto. De acuerdo a una larga tradición, el dominio de la acción política puede circunscribirse, sin temor a equivocarse, mediante dos líneas divisorias. La primera, en relación al trabajo, a su carácter instrumental, taciturno y al automatismo que hace de él un proceso repetitivo y previsible. La segunda, en relación al pensamiento puro, a su naturaleza solitaria y no manifiesta (fugitiva). A diferencia del trabajo, la acción política interviene sobre las relaciones sociales y no sobre materiales naturales; modifica el contexto en el que se inscribe en vez de obstruirlo con objetos nuevos. A diferencia de la reflexión intelectual, la acción es pública, está sometida a la exterioridad, a la contingencia, al rumor de la multitud. [...]

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Leia também, do autor, Gramática da multidão, em TEXTOS NA REDE