quinta-feira, 21 de agosto de 2008

ESQUIZOANÁLISE: CURSOS AGOSTO/DEZEMBRO

Coordenação: Valter A. Rodrigues

A constituição da modernidade enquanto projeto social, histórico, político e cultural, se sustenta num conjunto de proposições articuladas entre si para a produção de uma maneira específica de organização dos modos de vida, a saber, aquele amparado no princípio da racionalidade humana e seus desdobramentos (identidade, ordem, perfeição, saúde etc.). Disso decorre o desenvolvimento de saberes e práticas hegemônicos, responsáveis por forjar um novo modelo político (democracia representativa), uma nova economia (capitalista), um novo conhecimento (as ciências humanas) e, particularmente, a fabricação do sujeito (individual, interior, racional etc.), talvez a invenção mais contundente e importante desse arcabouço.
Se por um lado a psicanálise, também resultante deste processo, promove uma ruptura nas bases do projeto moderno - ao desvelar a aparência de verdade erigida em torno do sujeito da razão -, por outro ela institui um novo lugar de verdade, inscrevendo o sujeito moderno no registro inflexível da triangulação edipiana como inexorável determinação, totalmente respaldada pelo discurso psicanalítico, instrumento privilegiado de exercicio de poder na contemporaneidade. Assim, a psicanálise opera um deslocamento do saber e da prática que vai da ruptura à institucionalização, passando, com Lacan, por uma releitura dos textos freudianos em composição com o pensamento estruturalista.
Uma contrapartida crítica se apresenta com o surgimento da esquizoanálise, um modo de pensamento que se compõe a partir de conversações entre filosofia, ciência e arte, ultrapassando e mesmo diluindo as fronteiras convencionalmente supostas entre estes campos do saber. Estabelecendo conversações com a filosofia dos pré-socráticos (principalmente dos estóicos e de Epicuro), de Espinosa, Leibniz, Hume, Nietzsche, Bergson, Foucault e outros que têm como traço comum a oposição à tradição racionalista/transcendente na história da filosofia, tal postura crítica se expande e se multiplica rizomaticamente (sem origem, sem hierarquia... em transversalidade) ao incorporar a produção científica cujo paradigma já se desloca da tradição moderna (biologia molecular, física quântica...) e, num movimento mais ousado, o diálogo sempre aberto com a arte, da literatura ao cinema.
Resultante do encontro entre o filósofo Gilles Deleuze e o psicanalista/militante político Félix Guattari, a esquizoanálise produz suas questões em meio às problemáticas do presente, com uma preocupaçao ética, estética e política sobre a existência, tensionada pela idéia de que o desejo - entendido aqui como produção, e não como falta - efetua o impulso criativo de subjetivações outras, potencializando a vida em múltiplas direções, sem o apelo a sobredeterminações normativas ou a essencialidades naturalizantes, mas sempre ligada ao imanente pensamento da diferença. Daí emerge uma nova sensibilidade estética (a vida como obra de arte), uma nova possibilidade ética (a ética do acontecimento) e, sobretudo, uma atenção à expressão de modos de vida singulares em sua processualidade.
Em parte pela relativa "novidade" das idéias, propostas e articulações, mas principalmente pela marcada resistência - recíproca, diga-se - existente entre este novo modo de pensar e a academia tradicional, a esquizoanálise ainda é pouco difundida nas instituições universitárias, o que não tem impedido sua difusão crescente no Brasil e na América Latina como um todo. Suas contribuições têm sido cada vez mais notadas nas práticas desenvolvidas no sentido da promoção da autonomia e da produção de modos de vida ativos, seja no âmbito social, comunitário, grupal, individual etc. A esquizoanálise é uma maneira outra de pensar, sentir e fazer. Uma nova ética.

1 - ESQUIZOANÁLISE - Módulo I: UMA INTRODUÇÃO
Vejo o inconsciente como algo que se derramaria um pouco em toda a parte ao nosso redor, tanto nos gestos, nos objetos cotidianos, na tevê, no clima do tempo e mesmo, e talvez principalmente, nos grandes problemas do momento. Logo, um inconsciente trabalhando tanto no interior dos indivíduos, na sua maneira de perceber o mundo, de viver seus corpos, seu território, seu sexo, quanto no interior do casal, da família, da escola, do bairro, das usinas, dos estádios, das universidades [...] Um inconsciente cuja trama não seria senão o próprio possível, o possível à flor da pele, à flor do socius, à flor do cosmos... [Felix Guattari]

O curso tem como objetivo principal apresentar aos participantes o panorama contextual em que surge a esquizoanálise, a partir do cenário histórico e conceitual que se desenha na modernidade, bem como uma introdução aos fundamentos e proposições que delineiam o território de expressão deste pensamento. Com isso, abre-se aos participantes uma primeira via de estudo e discussão da produção do pensamento micropolítico de Deleuze e Guattari.

Início: 16 de agosto de 2008 / Horário: todos os sábados, das 9 às 12 horas / Carga horária: 60 h/a (20 encontros de 3h/a) / Certificação: FTC - Colegiado de Psicologia / Valor: 1 + 4 de R$ 90,00. / Vagas: 25 [vinte e cinco] / Local: FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências, campus Vitória da Conquista Rua Ubaldino Figueira, no. 200, Exposição - Vitória da Conquista - BA

2 - ESQUIZOANÁLISE - Módulo II: MICROPOLÍTICAS DO DESEJO
O dualismo conservar/transformar ocupa todo o espaço da percepção política comum; dificilmente se concebe uma atitude política que não vise nem a conservar nem a transformar, tampouco – como no caso do reformismo – a transformar o que se conserva ou a conservar o que se transforma, quer dizer, a adaptar. [...] Deleuze sempre evitou propor o que quer que fosse, embora essa abstenção tranqüila não exprimisse, a seus olhos, nenhum vazio, nenhuma carência. Em política, como em arte ou em filosofia, ele via em uma certa “decepção” a condição subjetiva propícia para algo de efetivo (um “devir”, um “processo”) [F. Zourabichvili]

Início: 09 de agosto de 2008 / Horário: todos os sábados, das 15 às 18 horas / Carga horária: 60 h/a (20 encontros de 3h/a) / Certificação: FTC - Colegiado de Psicologia / Valor: 1 + 4 de R$ 90,00 / Vagas: 20 [vinte] - fechado / Local: Av. Expedicionários, 798 - Recreio.

3 - A DIMENSÃO ÉTICO-AFETIVA DA CLÍNICA [estudos e supervisão]
O trabalho da clínica é acompanhar os movimentos afetivos da existência, construindo cartas de intensidade ou cartografias existenciais que registram menos os estados que os fluxos, menos as formas que as forças, menos as propriedades de si que os devires para fora de si. Traçamos, então, as linhas sedentárias, nômades, de fuga. Estas são as que se evadem dos territórios, que desmancham estados pelo efeito do aumento dos quanta afectivos de uma dada existência. Linhas de fuga que correm o risco constante de se tornar linhas de abolição e, nesse caso, os saltos qualitativos, as fendas criadas no contínuo de uma existência, podem nos precipitar em um buraco negro improdutivo. [...] [Eduardo Passos e Regina Benevides, Passagens da clínica]

No. vagas: 8 [oito] / Duração: indeterminado / Periodicidade: encontros semanais de 2:30 h / Valor: R$ 250,00 mensais / Público-alvo: psicoterapeutas, médicos e demais profissionais que se dedicam à clínica / Início: data e horário a definir com o grupo / Local: Centro Médico Itamaraty - Av. Octavio Santos, 381, sala 502.Tel.: (77) 8817-5456 e (77) 9136-6808

INSCRIÇÕES: Preencha a FICHA DE INSCRIÇÃO, indicando o curso escolhido, e envie para usinagrupodetudos@gmail.com
Maiores informações, ligue (77) 8817-5456 e (77) 9136-6808

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