Tradução Nedelka Solís Palma & Eder Amaral e Silva
Revisão técnica Valter A. Rodrigues
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Este seminário sobre “as esquizoanálises” não encontrará seu próprio regime a menos que ele mesmo se ponha a funcionar em um nível que eu qualificaria de “meta-modelização”. Dito de outra forma, se ele nos permitir cercar melhor nossos próprios agenciamentos de enunciação – seria melhor dizer: os agenciamentos de enunciação aos quais estamos adjacentes. Neste sentido, faço questão de repetir que nunca concebi a esquizoanálise como uma nova especialidade, que seria chamada a colocar-se nas fileiras do domínio psi. Em minha opinião, suas ambições deveriam ser, ao mesmo tempo, mais modestas e maiores. Modestas porque, se ela deverá existir um dia, é porque já existe um pouco por toda parte, de maneira embrionária, sob diversas modalidades; no entanto, ela não tem nenhuma necessidade de uma fundação institucional dentro da boa e velha regra. Maiores, na medida em que a esquizoanálise tem, do meu ponto de vista, uma vocação para tornar-se uma disciplina de leitura de outros sistemas de modelização. Não a título de modelo geral, mas como instrumento de deciframento de pragmáticas de modelização em diversos domínios. Poder-se-ia objetar que o limite entre um modelo e um meta-modelo não se apresenta sempre como uma fronteira estável. E que, em certo sentido, a subjetividade é sempre mais ou menos atividade de meta-modelização (na perspectiva proposta aqui: transferência de modelização, passagens transversais entre máquinas abstratas e territórios existenciais). O essencial torna-se então efetuar um deslocamento do acento analítico que consiste em fazê-la derivar de sistemas de enunciado e de estruturas subjetivas pré-formadas para agenciamentos de enunciação capazes de forjar novas coordenadas de leitura e de “pôr em existência” representações e proposições inéditas.
A esquizoanálise será, portanto, essencialmente excêntrica em relação às práticas psi profissionalizadas, com suas corporações, sociedades, escolas, iniciações didáticas, “passe”, etc. Sua definição provisória poderia ser: a análise da incidência dos agenciamentos de enunciação sobre as produções semióticas e subjetivas, em um contexto problemático dado. Eu voltarei a essas noções de “contexto problemático”, de cena e de “posto em existência”. Por enquanto, me limito a mostrar que eles podem referir-se a coisas tão diversas como um quadro clínico, um fantasma inconsciente, uma fantasia diurna, uma produção estética, um fato micropolítico... O que conta aqui é a idéia de um agenciamento de enunciação e de uma circunscrição existencial, que implica o desenvolvimento de referências intrínsecas, ou seja, de um processo de auto-organização ou de singularização.
Clique aqui para ler o texto completo, publicado na Revista Ensaios (Universidade Federal Fluminense), n.1, v.1, ano 1, 2° sem. 2008.
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