sábado, 5 de setembro de 2009

Pela arte das paixões alegres, por Morgana Barbosa Gomes


Resumo: Partindo da teoria dos afetos esboçada geometricamente na Ética de Espinosa, este texto transita pela noção de corpo elaborada pelo filósofo, propondo a compreensão de nossos afetos a partir não apenas de seus efeitos, mas também de suas causas e essências. A partir de tais gêneros do conhecimento, alcançaríamos a arte de cultivar paixões alegres, premissa para a conservação do homem, sua virtude primordial.

Palavras-chave: ética; corpo; afeto.


No entanto, não é pelas armas, mas pelo amor e pela generosidade que se vencem as almas (Espinosa)


Este texto é um convite ao pensamento. Mas trata-se do pensamento despido de sua roupagem vulgar. Nada do que aqui for pensado está isento de sensação. Tão pouco são palavras tecidas estritamente por mãos e mente, mas também pelo estômago, pelo útero, pelo coração. Se pensamento é ação, trata-se, portanto, de um convite à liberdade. E a liberdade aqui é mais um exercício do que a aparência falsa que comumente lhe atribuímos.

Esta é a premissa básica sobre a qual se sustenta este texto: pensamento enquanto ação, enquanto liberdade. Para tanto, é preciso rompermos algumas noções limítrofes herdadas pelo pensamento moderno, e, mais que isso, é preciso nos desfazemos de nossa tão arraigada moral. Faremos um percurso sobre a noção espinosiana de corpo e afeto, rumo à construção de uma verdadeira ética, cuja natureza não lhe permite ser ditada por nenhum Código, senão por equívoco conceitual. Os nossos Códigos de Ética já nascem estéreis.

Dentre os dualismos propostos pelo pensamento moderno, temos o que antagoniza corpo e alma, propondo ainda uma hierarquia entre eles, uma supremacia do primeiro pelo segundo. O racionalismo de Descartes acreditava que a razão era a melhor maneira de se alcançar o conhecimento. Alma e mente se equivaleriam, e as manifestações perceptivas do corpo seriam extensões inapropriadas para se chegar à verdade. A filosofia de Espinosa rompe com esta dicotomia, não fazendo distinções entre os afetos constituídos em um ou em outro. Pela tese do paralelismo, não há uma relação de causalidade entre mente e corpo, havendo, antes, uma relação de concomitância entre os dois, sendo, respectivamente, séries paralelas de Modos de Pensamento e de Modos de Extensão, ambas expressões equivalentes da essência da Substância. (cont.)


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MORGANA BARBOSA GOMES é jornalista (UESB – campus Vitória da Conquista), atriz e membro do Coletivo Usina.


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