sábado, 4 de abril de 2009

Palestra de Antonio Moura - 18.04.2009, 16h, Casa da Rede de Atenção



A palestra foi gravada em vídeo e áudio e será disponibilizada brevemente nesta página.

Projeto Existências-Resistências / Exposição de Rogério Ferrari na Letras&Prosa


Palestina... Turquia... Chiapas... Um homem, uma câmera, um corpo vibrátil... Rogério Ferrari [Ipiaú, BA], fotógrafo, perambula pelo mundo com sua câmera, instala-se na pulsação dos territórios, re-a[fe]tiva seu devir etnógrafo e constrói sensíveis cartografias de povos que dizem NÃO!

CURDOS – UMA NAÇÃO ESQUECIDA Quando chegou a Turquia, no inverno de 2002, mais precisamente em novembro, com o objetivo de conhecer a realidade do povo curdo, o fotógrafo Rogério Ferrari vinha de uma experiência que o havia marcado profundamente: estivera na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, Palestina, onde registrou o cotidiano e a resistência dos palestinos frente a ocupação israelense, vivência que resultou no livro Palestina, a eloqüência do sangue, lançado em 2004 no Brasil e, recentemente, em novo livro, Palestine, lançado na França. Diferentemente do conflito no Oriente Médio, que acontece sob os holofotes da midia, a questão curda mostrou-se muito mais complexa. Isso porque a repressão sofrida por aquele povo ao longo das últimas dez décadas foi simplesmente deixada de lado pela comunidade internacional, que fechou os olhos diante das atrocidades praticadas pela Turquia contra os curdos: direitos civis violados, inclusive o de falar a própria língua, exterminio, cidades destruídas, prisões, torturas ilustram o grau de repressão cometida contra os curdos. No entanto, ao contrário do registro do conflito no Oriente Médio, onde o seu raio de ação se deu, inclusive, entre fogo-cruzado, em Diyarbakir, capital curda na Turquia, Ferrari viu-se limitado pelo controle da polícia turca, o que o obrigou a fotografar de forma mais “intimista” a realidade local. No final, o trabalho ganhou um caráter diferenciado, pois a aproximação e o conhecimento das tragédias e dos sofrimentos de muitas famílias resultaram em imagens reveladoras do estado de espírito de um povo. O resultado encontra-se em CURDOS – UMA NAÇÃO ESQUECIDA, livro através do qual a expressão de um povo é retratada em preto e branco, dando ao observador a percepção do sofrimento e humilhação de milhões de pessoas, mas, também, a visão da integridade de um povo que não abdica do direito de existir com dignidade. O livro, impresso em setembro de 2007, tem 112 páginas, é uma produção independente composta por 45 fotografias, depoimentos, textos e mapa. Foi traduzido para o francês, italiano e curdo. O lançamento, na Aliança Francesa, foi acompanhado de uma exposição fotográfica, composta por 15 fotos em preto e branco. Em março o livro foi lançado em Paris, e, em maio, chegou ao Curdistão, onde foi entregue às pessoas que dele participaram e que se deixaram fotografar. Neste final de semana o lançamento se dá em Vitória da Conquisa, na Livraria Letras&Prosa.
Sobre o Fotógrafo: Rogério Ferrari desenvolve de forma autônoma o Projeto Existências-Resistências, uma documentação fotográfica sobre a realidade e a luta de povos e movimentos que lutam por terra e pelo direito básico de existir com dignidade: palestinos, curdos, zapatistas, sem-terra no Brasil, e, mais recentemente, o povo do Sahara Ocidental, refugiado no deserto do Sahara, na Argélia, e nos territórios ocupados pelo Marrocos. Procura, através de Existências-Resistências, afirmar e reposicionar a noção de resistência de maneira que, mais do que opor-se, resistir signifique existir, afirmar a vida sobre a morte. Assim, mostrou os palestinos que, vivendo há mais de cinquenta anos sob ocupação, mesmo com a vigência cotidiana da dor, sustentam a ternura, o desejo e a luta por liberdade; os sem terra no Brasil, que, ao lutar pela superação da fome e da miséria, expõem um lado do país que não cessa de fragmentar nossa busca por uma identidade digna; rompeu a absoluta desinformação sobre os curdos que historicamente têm sido banidos do direito de existir enquanto uma nação com pátria; viu nos Zapatistas, no México, o quanto um povo subestimado pode determinar novas práticas políticas, sustentando-as numa referência cultural própria; e, no povo do Sahara Ocidental, habitando em campos de refugiados numa das regiões mais inóspitas do mundo, e sob ostensiva e cruel repressão do governo marroquino, a vigência do valor da simplicidade e de uma sociedade pautada no valor do ser e não do ter.
O fotógrafo, nascido em Ipiaú, Bahia, lançou em outubro passado, na França, o livro Palestine, primeiro título da coleção intitulada Existance-Resistence, que incluirá os demais registros que compõem o Projeto Existências-Resistências. Formado em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia, trabalhou em revistas como Carta Capital, Veja, Áccion e Reuters. Seu trabalho é independente e, sem muito dinheiro para bancar suas viagens, costuma hospedar-se na casa de pessoas dos lugares que visita, tendo assim melhores condições para vivenciar e retratar a árdua e difícil vida dos povos que ainda lutam por um pedaço de terra ou pelo reconhecimento de sua nação. Distanciado de uma postura panfletária ou de clichês, defende a necessidade de que o artista, o gari, quem seja, não negligencie, não tergiverse e atue além das retóricas diante das injustiças e do cinismo de uma sociedade burguesa e decadente. Aconteçam elas nos Curdistão ou nas ruas de Salvador.