domingo, 31 de maio de 2009

VER..., por Guilherme Corrêa

Comemoramos (!!??) recentemente, neste mês de maio que se finda, o Dia Nacional Contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Os altos índices de abuso sexual de crianças anunciados cotidianamente nos sinalizam uma situação que demanda medidas transformadoras. Entretanto, as saídas que os agentes costumam apontar [como a castração química de pedófilos...] têm um caráter higienista e um colorido eugenista que anuncia, muito mais que ações em defesa da democracia e dos direitos do homem, microfascismos a combater. O texto abaixo aponta outras vias [ou alvos] de combate, bem mais legítimas e realizáveis.

VER…
A meninas superpoderosas são boas. Amigas do prefeito e resultado de uma experiência científica, elas resolvem a socos todos os problemas causados pelos maus. Bons têm cara de bons, maus, de maus. Para os maus, espancamento e prisão: é assim que elas gostam. Depois de passarem o dia distribuindo porrada e limpando as ruas, são postas na cama pelo zeloso cientista que as criou e dormem o sono dos justos. Mas, as superpoderosas são para meninas, meninos pedem mais emoção… Mortes espetaculares são a pedida. Da disseminação de uma espécie de ludicidade violenta marcada pelo vídeo game mortal kombat (ícone maior) chegamos hoje ao GTA e seu convite a matar inimigos, atropelar quem passar pela frente, empurrar pessoas para a linha do metrô que passa… Fazer tudo isso sem ser pego pela polícia garante excelente pontuação. Polícia ou bandido são as opções oferecidas no mundo em que maniqueísmo com 100% de pureza é edulcorado por competições, acúmulo de pontos e cores alegres no qual despontam a disponibilidade para eliminar o mal.
Quase toda criança brasileira, hoje, seja rica ou pobre, é filha de gente que – com Ratinho, Hebe Camargo, Ana Maria Braga – acha que todas as pessoas nominadas bandido devam ser presas e apodrecer na cadeia. Essas crianças aprenderam, com Xuxa, Luciano Huck e Gugu a amar e emocionar-se com treinamentos militares em que pessoas comuns, modelos de beleza e seus apresentadores prediletos querem vencer os desafios (ordenados aos berros) por comandantes másculos e fortões. Ui!
No Brasil as crianças nos surpreenderam amando Tropa de Elite. Pudera! São mais de trinta anos – desde Nacional Kid, passando por Gil Gomes no programa Aqui Agora – de investimento nessa formação político-militar-policial baseada em heróis que salvarão o mundo do mal. [cont.]

___________________________________________________
* O autor é membro do coletivo Trezentos

sexta-feira, 29 de maio de 2009

POLÍTICAS ESQUIZOTRANS* - Fabiane Borges e Hilan Bensusan

Por uma pornografia livre

Contra a mercantilização dos desejos e o patriarcado falocêntrico, queremos fazer uma pornografia com o odor de Walt Whitman. Oceano-sexual, via-láctea sexual, brisa-sexual, esperando-por-você-sexual. Uma pornografia livre como uma grafia do corpo livre, ou uma geografia da alma livre

Fabiane Borges, Hilan Bensusan

(13/05/2008)

O lixo. Dejetos, excessos, defeitos, exceções com os quais não sabemos o que fazer. Enchemos as ruas, as valas, os depósitos de lixo. O lixo é o que sobra – o que não tem cabimento nas nossas formas de vida. Sustentabilidade pode ser medida assim: quanto fica de fora! Uma maneira de distribuir que embala com plástico, uma maneira de produzir que dá a luz à mais do que consegue escoar. Uma maneira de consumir que se baseia em exibir sempre o novo inelutavelmente deixa sobras de fora. O lixo é o que não conseguimos assimilar nas nossas maneiras de produzir, distribuir e consumir. O lixo é o que sobra de um processo – como uma máquina com vazamento, como uma economia que funciona produzindo excessos, excedentes, externalidades. [cont.]


Leia o texto integral em Le Monde diplomatique.

___________________________________________________________________

* POLÍTICAS ESQUIZOTRANS é uma coluna mantida por Fabiane Borges e Hilan Bensusan em Le Monde diplomatique, edição Brasil.

domingo, 24 de maio de 2009

POLÍTICAS ESQUIZOTRANS* - Fabiane Borges e Hilan Bensusan

Queer: política sexual do noise


Nem se trata de encontrar espaço para o ruído, mas de roer lentamente o sexo com partitura, o desejo como coreografia e os corpos com tonalidade fixa. E a parte mais excitante: tudo soa. Tudo é som. Cada ínfima parte do mundo tem seu próprio ruído. Isso é noise, isso é sexo. Democracia

(24/07/2008)

Noise não é música. Queer não é sexo. Talvez estejamos à beira da era da pós-música e estamos querendo ver ao longe a era do pós-sexo. Mas há ziguezagues frenéticos e pode ser que até a música retorne, até o sexo retorne. Queremos isso? O noise é um deslocamento para fora das margens da história da música canônica; uma requebrada, uma saída do eixo, mas que se repete cada vez mais: o noise tem um pedigree em Cage, Boulez, Zappa, um outro em Captain Beefheart, Sonic Youth, Wunderlitzer e tem outros. O deslocamento se faz expondo matéria sonora que ficou deixada de lado pelo cânone da música; aquilo que soa amorfo ou abjeto para além do que é apenas desafinado. Os detritos da música – que têm o nome do que perturba a transmissão. Adicionar noise é uma intromissão no caminho esperado da informação: fazer ruído. Deixar as coisas roídas. Boyan Machev [1] descreve o noise como uma desorganização da vida: um agente provocador que logo se comporta como um agente infeccioso. Machev opina que o noise é a arte da desorganização e por isso mesmo é a arte da alteração, da expressão da potência e da transformabilidade. Do que parecia amorfo emerge alguma nova morfologia e, se continuamos ruindo, uma outra. Trata-se de roer a teia que vai da matéria ao instrumento e do instrumento o som. A matéria ela mesma faz som – matéria-sem-instrumentos é equipamento esquizo. Noise contamina a música e, eventualmente, vai se tornando música. A música vai ficando ruída, infestada de desorganização. [cont.]


Leia o texto integral em Cassandras ou em Le Monde diplomatique

____________________________________________________________________

* POLÍTICAS ESQUIZOTRANS é uma coluna mantida por Fabiane Borges e Hilan Bensusan em Le Monde diplomatique, edição Brasil.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

CINEMAUSINA – EUPHORIA, de Ivan Vyrypayev

Hoje, às 19 h, no Viela Sebo-Café, exibição do filme Euphoria (Rússia, 2006, 71 min, cor), de Ivan Vyrypayev, com comentários de Valter A. Rodrigues.
Vencedor do Leão de Prata de Melhor Filme Europeu no Festival de Veneza de 2006.
Viela Sebo-Café: Rua Siqueira Campos, 350 - Recreio - 45020-800 -Vitória da Conquista - BA
Tel. [77]3421-3266.