sábado, 24 de maio de 2008

Édipo e os Dogon: o mito da modernidade questionado, por Henk Oosterling


Tradução: tomaZtadeu

Esta conferência é o resultado de uma antiga fascinação, que diz respeito a uma figura e a um título com os quais tenho me debatido por vários anos. Ambos estão em um livro, escrito pelo filósofo francês Gilles Deleuze e o psiquiatra de orientação lacaniana, Félix Guattari, intitulado Mil platôs, publicado em 1980. Ele constitui a segunda parte de um livro intitulado Capitalismo e esquizofrenia. O título é o seguinte: “28 de novembro de 1947 -- Como criar para si um corpo sem órgãos”. E sob esse curioso título vem um desenho, com a legenda: “O ovo dogon e a repartição de intensidades”.

Nesse título e nesse desenho encontramos uma combinação extremamente intrigante, mas um tanto obscura. Vou citar o primeiro parágrafo para lhes dar uma impressão do desespero filosófico de que fui tomado durante minha primeira leitura: “De todo modo você tem um (ou vários), não porque ele pré-exista ou seja dado inteiramente feito – se bem que sob certos aspectos ele pré-exista – mas de todo modo você faz um , não pode desejar não fazê-lo – e ele espera por você, é um exercício, uma experimentação inevitável, feita no momento em que você a empreende, não ainda efetuada se você não a começou. Não é tranqüilizador, porque você pode falhar. Ou às vezes pode ser aterrorizante, conduzi-lo à morte. Ele é não-desejo, mas também desejo. Não é uma noção, um cnceito, mas antes uma prática, um conjunto de práticas. Ao Corpo sem Órgãos não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite. Diz-se: que é isto – o CsO – mas se está sobre ele – arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como um louco, viajante do deserto e nômade da estepe".

O título vem de um experimento radiofônico realizado pelo ator e escritor francês Antonin Artaud, no qual esse inovador do teatro, o qual, aliás, era considerado mais ou menos louco pelos psiquiatras, declara guerra aos órgãos. Filosoficamente falando: ele critica radicalmente a maneira como o indivíduo ocidental objetifica e vive seu corpo e seu desejo.

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Sobre os Dogon: DOGON NOMMOS

Um comentário:

Valter A. Rodrigues disse...

Oi, Amauri
tentei acessar o original em inglês, mas o link está desatualizado ou o texto foi retirado. Sem dúvida, um texto curioso. As partes suprimidas (não traduzidas?) nos obrigam a construir o texto ali onde ele se rompe, ali onde ele nos abandona.
De qualquer maneira, a pretensão de Freud de fundação de Édipo como um mito universal esbarra em todos os outros mitos construídos em tantos outros lugares para dar sentido ao "somos". O mito - um ovo cheio de signos, uma consistência que se sustenta no entrelaçar de signos -, que ele se torne necessário para [nos] ensignar isso que somos, é o que podemos compreender plenamente... e tb que se faz filosofia contra o mito, mas sem deixar de produzir um...; ou que um corpo se constrói, que não podemos deixar de construir um (isto é determinado e independe de nossa vontade/arbítrio)... A loucura é pretender que haja uma única maneira de construir um corpo (o que somos levamos a acreditar com o corpo-organismo e o saber produzido sobre ele, por ex). Loucura - que faz rir os deuses - é, como observou Nietzsche, que um deus pretenda ser único...