terça-feira, 3 de agosto de 2010

História, Memória e Esquecimento, por Bruno Vasconcelos

Em dois mil e oito, o ministro da justiça da época – Tarso Genro, e o então presidente do Superior Tribunal Federal – Gilmar Mendes, entraram em polêmica acerca da punição das pessoas envolvidas com a tortura durante a ditadura militar. Eis que das sombras, em jornal televisivo do maior grupo de comunicação do país, surgiu a figura de Jarbas Passarinho, ministro de três dos governos do referido ciclo. Indagado sobre a polêmica, Passarinho recordou seu último chefe. Ele, João Batista Figueiredo, ‘não queria justiça, queria o esquecimento’. Frase dita, segundo o ex-ministro, no apagar das luzes do regime.
Não querer justiça, mas o esquecimento, supondo que tal frase tenha sido dita desta maneira, nos empurra para uma bela confusão. Misto de truculência com ignorância, o general que adorava cavalos também afirmou, e cito de memória, que o brasileiro não sabe, ou não sabia usar o mictório. Curiosamente o pedido tem sido atendido. Apesar de inúmeras teses, dissertações, livros e relatos, a lembrança ou o conhecimento da história recente do país não são generalizados na população e permanecem restritos aos envolvidos e à uma pequena parcela de brasileiros.
Atrelados até o pescoço à lógica de um capitalismo que renova o consumo a cada instante, temos uma juventude que desconhece a história de seus pais. Entre historiadores encontramos a constatação de uma memória seletiva oriunda das dinâmicas das relações de poder na cena social do contemporâneo. Alguns grupos que chegaram ao comando, compostos majoritariamente daqueles que estiveram no exílio, predominaram sobre outros de quê pouco se fala, e apenas o silêncio a recobrir a dor de seus próximos. [cont.]
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Bruno Vasconcelos de Almeida é Doutor em Psicologia Clínica (PUC/SP), Psicólogo, Acompanhante Terapêutico e Professor da PUC Minas

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