Há um sofrimento que toma conta da vida dos personagens, fazendo-os buscarem respostas no terreno mais imundo que pode existir: a moral. Há uma violência produzida pela moral que inevitavelmente impõe, àquele que sofre as conseqüências dela, uma via venenosa para que o sofredor encontre a causa das suas dores em si mesmo: a culpa. Duas grandes cenas marcam o filme: as lágrimas de Johan e Esther. A dor expressa no rosto de Johan, sentado junto à mesa, sozinho, chorando durante longos minutos; a outra cena, profundamente marcante, após uma longa cena no interior de um automóvel: Esther diz a Johan que sente saudade dos tempos em que eram felizes, quando ela se sentia viva. Ainda com o automóvel em movimento, ela pede para Johan parar: ao sair do carro, sob chuva forte, ela encosta a cabeça no tronco de uma árvore e chora longamente... Uma cena memorável. Muita dor, muita infelicidade. As lágrimas de ambos mostram o retrato de prisioneiros de uma moral que não pára de os violentar. Estão separados da capacidade de efetuar plenamente o que podem, no corpo e na mente. Não há moral que não opere essa amputação... Não, a culpa não é inerente à natureza humana. Ela é um terrível veneno que faz com que a moral seja ainda mais necessária aos que sofrem os efeitos dela... Filme grandioso, que faz lembrar algumas obras-primas de Tarkovski. Sensação pura. Mas quem está acostumado a interpretações, poderá se entediar.
Amauri Ferreira, 16.06.08
Comentário do "The Guardian":
No seu melhor, o novo filme de Reygadas tem a riqueza de um Mallick ou a simplicidade transcendente de um Ozu; no seu pior ocasional, tem o sopro de Lars Von Trier. Mas não se enganem: este filme pensado em profundeza, formalmente conseguido, de aspecto belíssimo e inesperadamente empolgante de um realizador que dá o salto para a primeira linha do cinema mundial. Na passagem a negro final, deixa para trás um ecrã branco, como se o interior da retina ficasse a sensação tremeluzente por ter olhado para algo de esmagadoramente poderoso.
É com certeza um desenvolvimento nítido e convincente do primeiro filme de Reygadas, Japon, e de longe superior ao seu ambicioso mas trapalhão segundo, Batalha no Céu. Uma passada em falso cuja tolice e superficialidade é exposta em quantidade. Luz Silenciosa tem momentos sublimes, meditativos: momentos de êxtase visual não comprometida que chega perto de desafiar as leis de gravidade cinematográfica… [...]
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Amauri Ferreira, 16.06.08
Comentário do "The Guardian":
No seu melhor, o novo filme de Reygadas tem a riqueza de um Mallick ou a simplicidade transcendente de um Ozu; no seu pior ocasional, tem o sopro de Lars Von Trier. Mas não se enganem: este filme pensado em profundeza, formalmente conseguido, de aspecto belíssimo e inesperadamente empolgante de um realizador que dá o salto para a primeira linha do cinema mundial. Na passagem a negro final, deixa para trás um ecrã branco, como se o interior da retina ficasse a sensação tremeluzente por ter olhado para algo de esmagadoramente poderoso.
É com certeza um desenvolvimento nítido e convincente do primeiro filme de Reygadas, Japon, e de longe superior ao seu ambicioso mas trapalhão segundo, Batalha no Céu. Uma passada em falso cuja tolice e superficialidade é exposta em quantidade. Luz Silenciosa tem momentos sublimes, meditativos: momentos de êxtase visual não comprometida que chega perto de desafiar as leis de gravidade cinematográfica… [...]
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5 comentários:
Esta foi uma das mais belas experiências com o cinema que tive o prazer de viver. Um fílme magnífico, construído com belas imagens-intensidade. Reygadas, com este filme, reinventa o cinema como potente dispositivo de subjetivação.
Pois é, estou curiosíssimo para ver o "Batalha no Céu". Tentei baixar lá no makingoff, mas desisti da idéia, devido à minha conexão ser fraca.
Vi Batalha no céu outro dia e já coloquei na fila para ver seu primeiro filme, JAPÃO. A experiência é totalmente diversa de LUZ SILENCIOSA, embora encontremos o mesmo cuidado formal, os planos longos, os movimentos de cãmera lentos. Em Batalha no céu, o grande momento (como cinema) é um percurso pelo espaço que completa os 360 graus. A câmera sai do quarto, onde está o casal sobre a cama, atravessa a janela, percorre todo o espaço exterior e retorna ao casal. Neste filme há música, mas ela funciona como um terceiro personagem, que intervém na cena e lhe confere um sentido outro. Por exemplo, na abertura do filme: ao som da respiração, a câmera parte do rosto do personagem, percorre em movimento descendente seu corpo nu, até encontrar, à altura da virilha um emaranhado de cabelos que reconhecemos como a cabeça de uma mulher. Nesse momento entra uma música sacra, a belíssima The protecting veil, de Taverner. Em um mesmo plano-seqüência, a câmera nos faz testemunhar um fellatio, marcado pela intensidade da música em crescendo, que se estenderá, após um corte brusco da imagem para um fundo negro com o título do filme, até as evoluções de uma tropa militar. Sublime!
Esse seu comentário serviu para me dar água na boca! Se eu não me engano, também há no Luz silenciosa um giro de 360° com a câmera, na cena que o Johan está com o pai dele, na neve. E o que dizer da sequência do banho no rio das crianças? E os pais lavando o cabelo de uma delas? E do encontro de Johan com a sua amante, com a câmera seguindo os seus passos até aparecer as pernas dela? Coisas tão simples e filmadas com muita sensibilidade.
E no filme todo só tem uma música que é tocada em um rádio, na cena em que Johan dá vários giros de 360° com a caminhonete.
Pois é. Comemcei a ver Japão. Um andarilho mergulha no interior do México... O que vi promete grande cinema... O interessante é que a crítica se torce toda com reygadas. Disseram absurdos sobre Batalha no céu. Há em Reygadas uma relação intensa com a religiosidade que estou ainda para entender melhor...
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