segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Desaforismo no. 1[?]

[Navegando nos textos do Usina...]

Final de domingo, iminência da segunda, depois de uma breve conversa com Fuganti no google talk e após horas de dedicação à seleção dos textos para o curso de esquizoanálise, percorro alguns textos postados neste blog. Começo por um meu, "Sade e a experiência limite dos corpos-linguagem". Ler o que já escrevi antes é sempre uma maneira de fazer-me habitar pelo estranho e pelo múltiplo; não escreveria novamente o que escrevi em dado momento da mesma maneira, não por não "concordar mais" com o texto, mas por não coincidir mais com ele, por não encontrá-lo mais como meu texto, como meu jeito, como uma minha escrita presente. Vou para as notas de rodapé do texto, dissociando-as das referências que exigiram sua derivação... Notas de rodapé parecem-me como registros de textos por fazer, de idéias por retomar... Encontro algumas, mas a lassidão do domingo não convida a muitos esforços. Não completo a leitura de uma nota sobre a Sociedade dos Amigos do Crime, de Histoire de Juliette, a terceira versão da história de Justine e Juliette... Deixo-a de lado e começo a ler um texto de Amauri, "A revelação de Estamira e a destruição da humanidade"... Leio inicialmente na tela, isso me cansa, imprimo o texto e vou para a sala, esparramando-me no puf frente à tevê-ligada-sem-espectador. Leio em Amauri sobre os trocadilos de Estamira enquanto os jogos de salão do Big Brother se desenrolam na telinha. Nos jogos, é o momento do confessionário, momento culminante do programa, quando os participantes, num esforço afetivo de "confissão sincera-íntima-pública", indicam quem eles desejam ver excluído do jogo.
Na composição entre a fala que me chega pelos ouvidos e minha leitura do texto (Amauri fala da formação de quadrilhas eclesiásticas e de quadrilhas sociais...) o que vem a mim, cristalino, é o que eu já sabia, embora esse saber muitas vezes se apresente de forma difusa... Big Brother, como já afirmei muitas vezes, é o espaço privilegiado no qual a mídia assume hoje sua função educativa, enquanto dispositivo da sociedade de controle, de formar os atores adequados para a sustentação dos modos dominantes de subjetivação capitalista. É nessas tramas (que estão presentes também nas novelas, nos noticiários) que um modo de viver é afirmado como "desejável", "verdadeiro", "única via de sucesso" em um mundo que demanda que sejamos espertos e "inteligentes" para nos mantermos up to date. Um mundo que, acompanhando John Holloway, reconhecemos ser falso, mas que, entretanto...
Nessa composição entre falas de Estamira sobre os "espertos ao contrário" e os trocadilos e as falas "humanas" no confessionário do Big Brother, entre notas sobre a Sociedade dos Amigos do Crime e a organização de quadrilhas eclesiásticas e quadrilhas sociais, nessa composição que me leva a pensar em um mundo falso (que, entretanto...), acabo caminhando para imagens de outro filme, as finais de Dogville, de Lars Von Trier, quando Grace conclui que aquela forma de vida que ela encontra e da qual se liberta não merece continuar existindo - por constituir uma ameaça a ser evitada - e assume um gesto ético ordenando seu extermínio. Pelo fogo, como sugere Estamira...
É esse gesto que se sustenta em mim enquanto retorno e me fixo nas imagens do Big Brother, nessas pessoas que caminham do anonimato de "comuns" para a distinção de "celebridades" sem que nada nelas mude, posto que sua função é nada mais, nada menos, que a afirmação da legitimidade do "comum" e a sustentação do glamour desse mundo que reconhecemos falso, mas que, entretanto...

4 comentários:

Morena Sebadelhe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marx de Sá disse...

Domingo... eis o dia nacional do descanso!
O dia em que a televisão parece ser a melhor opção da maioria dos brasileiros!

O dia que antecede a segunda...
O dia do Faustão,
Gugu (Domingo Legal),
Turma do Didi,
Show do Tom,
Fantástico (O show da vida)...

E eis que a noite de domingo se encerra ao Grande-Big Brother...

Alguém consegue realmente descansar aos domingos?

Morena Sebadelhe disse...

Acordo
Já abro os olhos instintivamente
Sem maiores percepções
Café com os meus (meus por escolha,não por imposição do óbvio)
Antes de despertar para o mesmo (cumprimento das obrigadas obrigações de uma cidadã 'de bem' - ...é por isso que sempre prefiro o bom ao bem...)
Leio.
Uma idéia me cutuca (rápido, rápido, entre o banho e a reunião)
Sugestão?
Ateemos fogo!
Você tem fome de quê?
"O que pode ser destruído deve ser destruído..."
E nas cinzas, renovação, ou melhor,
Criação.

[Comentário do comentário: Formas verbais... Conselho de minha vó após uma consulta telefônica sobre a conjugação do verbo atear: minha filha, você está precisando estudar as formas rizotônicas e arrizotônicas dos verbos.
É... a vida é dura!]

Anônimo disse...

Hoje é um novo dia
De um novo tempo que começou
Nesses novos dias, as alegrias
Serão de todos, é só querer...

Eis a precisa e infalível máquina de fabricar “Gente”. Privatização do que supostamente seria um espaço público. Intimização de tudo. Familiaridades demasiadas. Sejam bem-vindos ao Fantástico show da vida desse nosso “Grande Irmão”...

Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier...